domingo, 7 de novembro de 2010

VAI UM METÁLICO AÍ? Parte 3

Por: João Paulo Zaccariotto Ferreira

INTRODUÇÃO

Em matérias anteriores falamos bastante sobre o dia a dia de quem tenta fazer um pintassilgo metálico. Agora, vamos partir para uma matéria mais técnica. Juntei todos os CDs de metálico que tenho em casa e fui para um estúdio onde gravei diferentes corridas em um mesmo CD. Até montei algumas eletronicamente para ouvir como soariam quando comparadas com as corridas normais.

Essa matéria é basicamente a publicação de um estudo que fiz para descobrir semelhanças e diferenças entre corridas metálicas, e também é a primeira vez que foi medido e publicado qual o alcance, em hertz, da corrida metálica. O que é um grande passo para progredirmos no ensinamento de filhotes só através do CD. Vou falar sobre alguns detalhes a respeito de como uma gravação deve ser feita e, ao final, vou descrever qual o desempenho desejado para um torneio. Portanto, espero que com mais essa matéria, possamos acrescentar algo para entendermos melhor sobre esse canto tão apreciado por muitos, e sobre a técnica de ensinamento de filhotes.

Cada sonograma a seguir contém uma quantidade de notas que formam uma corrida.
Falando sobre freqüência (hertz), e melodia, duas das três corridas têm a melodia mais uniforme onde começam com notas mais baixas e gradativamente alcançam a nota mais alta, e retornam sem mudar bruscamente entre uma nota e outra, para uma nota mais baixa de novo. Uma delas (montada eletronicamente), tem todas as notas iguais, ou seja; a corrida se desenvolve com notas que atingem a mesma frequência o tempo todo. E outra muda bruscamente de uma nota alta para uma baixa demais. Enfim, quem já ouviu algumas corridas diferentes, consegue reconhecer uma corrida bem formada, mas ao mesmo tempo, o que soa melhor para mim pode não soar para você. Aí já é uma questão de gosto.
Aqui estão ilustradas algumas das corridas escolhidas para tentar explicar para você leitor, sem o auxilio do CD, as diferenças entre elas.


CORRIDA 1

Corrida original com 13 notas. Sem nenhuma montagem. Repare que cada nota tem 2 letras. A primeira é o que chamamos de “L” e a segunda de “I”. Percebe-se bem a suave melodia dela, porque além de ter somente “duas letras”, a mudança de freqüência de uma nota para a outra é pequena e gradativa.




CORRIDA 2

Corrida original com 9 notas. Sem nenhuma montagem. Também percebemos a suave mudança de frequência de uma nota para outra. Repare que da quinta nota até a oitava, há uma letra a mais do que qualquer outra nota aqui ilustrada, totalizando 3 letras por nota. Identificamos essas notas como “TRI”. Praticamente, a metade da corrida é desenvolvida com notas “TRI”, ao invés de “LI”. Se vocês pudessem ouvir, perceberiam que a melodia da corrida fica mais “batida”, ou “marcada”.




CORRIDA 3

Corrida original com 11 notas. Sem nenhuma montagem. Repare que cada nota tem 2 letras. Da quinta nota para frente, a ilustração dá a entender que possa haver uma terceira letra no meio das notas, só que não é o caso. Ao ouvir a corrida percebemos que essas notas soam mais como “LI” e não “TRI”. As primeiras notas atingem uma frequência bem mais alta do que as últimas. Da quinta nota para frente o pássaro abaixa bem a frequência, ocorrendo uma mudança brusca na melodia da corrida. Mas para quem acha que esta corrida não seja agradável de se ouvir se engana.




CORRIDA 4

Montada eletronicamente com 9 notas copiadas de uma nota só. Não há nenhuma variação de frequência de uma nota para a outra e, por incrível que pareça, soa muito bem.




CORRIDA 5

Montada eletronicamente com 9 notas diferentes, começando de notas baixas para a mais alta. Soa estranho porque parece ser interrompida quando pára na nota mais alta.


NOTA: As corridas 04 e 05 foram fabricadas somente para ilustrar possíveis diferenças de canto. A corrida metálica NÃO é um canto fabricado e reproduzido eletronicamente. É natural de algumas poucas regiões e grupos específicos de pintassilgos. Então o aprendizado através do CD se torna mais fácil por ser um canto que não foge as origens da espécie.


A RELAÇÃO FREQUÊNCIA E VOLUME

Através do aparelho chamado Analisador de Spector ou Analisador de Frequência, visualizamos quantos hertz cada corrida alcançou. Todas que foram analisadas atingiram uma frequência máxima acima de 20.000 hertz (estes aparelhos encontrados em estúdios só atingem uma leitura máxima de 20.000 hertz de freqüência, por nossa capacidade auditiva só atingir 20.000 hertz), tendo o seu pico de volume (altura da voz), entre aproximadamente 4.000 e 7.000 hertz. Esse pico de volume de voz dura a corrida toda, e está SEMPRE entre aproximadamente 4.000 e 7.000 hertz, sendo que algumas corridas oscilam de 4.000 a 4.500 Hz, outras de 6.000 a 6.500 Hz e assim por diante. Levei também o meu pintassilgo baianinho, o JILÓ, para o estúdio, e enquanto gravávamos a corrida dele ao vivo, medimos a frequência de suas notas que se igualou as frequências das corridas gravadas. Com o Decibelímetro, medimos a altura alcançada pela voz do JILÓ, que atingiu 80 decibéis. Como o estúdio tem um ambiente escuro, acredito que suas corridas alcancem maior volume em um ambiente aberto e com mais iluminação.

O que estou tentando provar aqui é que apesar de alcançar uma frequência acima de 20.000 hertz, a parte do metálico que ouvimos nitidamente é a que está entre 4.000 e 7.000 hertz, o resto é o harmônico. O que é o harmônico? Imagine um violão! Se pegarmos o dedo indicador e colocarmos em qualquer uma das cordas bem no centro de qualquer uma das “casas” e tocarmos aquela nota, o que vamos ouvir é aquela nota e só. Só que dentro daquele espaço que sobra dentro da “casa” daquela nota existe o campo harmônico. Se você colocar o dedo próximo ou em cima daquela barrinha de metal que separa uma nota da outra, você vai ouvir somente um agudo baixinho, que é o complemento ou o harmônico daquela nota.


MINHA TEORIA

Separamos uma corrida para fazer um teste. Onde ela se encontra no seu auge em decibéis (altura de voz), que é na região de 4.000 a 7.000 hertz, nós cortamos e ouvimos a partir dali. Agora a corrida estava em uma região de freqüência mais alta chegando a ultrapassar os 20.000 hertz. O som ficou bem baixinho, mas não deixamos de conseguir ouvir a corrida nenhum segundo. Esse som baixinho é o que chamamos de harmônico, ou região harmônica, que não tem importante influência no ensinamento. Afirmo isso porque, musicalmente falando, o harmônico é um complemento de uma nota musical. Como já disse, as notas musicais que nós e os pintassilgos ouvimos com nitidez são as que estão entre 4.000 e 7.000 hertz. O restante (que está fora desta frequência), é o harmônico ou complemento. Falo isso porque eu não seria capaz de ter feito pássaros como o PUDIM e o PALITO em um aparelho comum sem mestre, e depois o Claudio Medeiros ter aperfeiçoado os dois em outro aparelho comum com um CD diferente, sendo que os aparelhos que estão no mercado, alcançam no máximo 20.000 hertz.


A GRAVAÇÃO


Geralmente quando vamos fazer qualquer tipo de gravação em um estúdio, a aparelhagem está programada para gravar em aproximadamente 44.000 hertz (que é chamada de TAXA DE GRAVAÇÃO), para garantir uma melhor qualidade de som gravado. Sabemos que a frequência de som alcançada pelo metálico passa de 20.000 hertz, mas não sabemos o quanto alcança. Se ela não passa de 44.000 hertz, podemos dizer que uma gravação convencional de qualquer estúdio é eficiente porque, embora não ter grande influência para o ensinamento de filhotes, o complemento ou o harmônico do metálico vai ser gravado por completo, só por garantia. Só que a gravação do CD tem que ser feita o mais naturalmente possível. Não pode haver muita masterização, dedução ou adição de notas, e nem mudança na frequência das corridas gravadas. Isso tudo descaracteriza demais o canto.

Há também uma crença de que tem que haver uma compatibilidade da gravação em OHMS para o aparelho em que o CD vai ser tocado. OHMS é igual a WATTS. Ou seja: resistência ou potência que determinado aparelho suporta. Quanto menor os OHMS de uma aparelhagem, maior potência em watts as caixas vão aguentar. Então isso não tem nada a ver com um filhote ouvir ou não uma corrida metálica através de um CD, porque o que mais importa é a frequência que a aparelhagem alcança.


O MISTÉRIO DO TELEFONE

Nós que sempre criamos pintassilgo, nunca entendemos porque, ao falarmos por telefone fixo, celular para fixo, ou de celular para celular, não conseguimos escutar um pintassilgo cantando metálico do outro lado da linha. Em função disso, sempre imaginamos que seria possível que o metálico tivesse alguma frequência que não eramos capazes de ouvir (nosso sistema auditivo registra sons de 20 até 20.000 hertz). E realmente tem, só que não tem importante influência. Mas um dia liguei do meu computador através do Skype, para o celular da minha mãe que estava na minha casa, e enquanto falava com ela, consegui ouvir perfeitamente meu pintassilgo dando metálico. Meu palpite é que a maioria dos aparelhos de telefone fixo e celulares, não devem possuir uma aparelhagem de som que alcance nada próximo a 4.000 hertz, porque isso não é necessário para nós humanos ouvirmos a pessoa do outro lado da linha. O ruído baixinho da corrida que ouvimos através do telefone, é justamente o harmônico que está numa frequência abaixo dos 4.000 hertz. Parecido com o ruído que ouvi no estúdio quando cortamos a parte da corrida que estava entre 4.000 a 7.000 hertz. Já o meu computador e o celular da minha mãe, devem suportar uma frequência igual ou maior que 7.000 hertz. Por isso, naquele dia eu pude ouvir o metálico. Podemos dizer que o “mistério” do aparelho telefônico está esclarecido.


QUAL O DESEMPENHO DESEJADO PARA UM TORNEIO?

Após os dados citados nessa matéria, todos nós entendemos um pouco mais a respeito do canto metálico. Mas quem já ouviu bastante o canto, é claro que consegue assimilar melhor o que está escrito. E para acrescentar mais ao nosso conhecimento, gostaria de frisar que há um detalhe a ser observado na hora da apresentação do pássaro em um torneio. Dependendo do estado emocional em que se encontra, ele vai cantar mais baixo ou mais alto, mais lento ou mais rápido e etc... Por isso a importância de manter as gaiolas dos outros participantes cobertas, e o mais afastado da estaca possível, porque vai influenciar na apresentação do pássaro da vez. Sem entrar em detalhes, o ideal é que ele cante uma corrida longa, em uma velocidade moderada e em voz alta. E se ele mantiver o mesmo padrão de corrida durante toda sua apresentação, vai se destacar sobre os outros que variaram muito a quantidade de notas, a velocidade e a altura de suas corridas. Para isso acontecer na categoria metálico, é preciso criar um ambiente onde o pássaro se sinta a vontade para executar um alto nível de apresentação.

OBS: Espero que esse estudo venha contribuir para que nossa categoria demonstre seriedade e consiga conquistar o respeito de todos.

Colaboradores:
Cláudio José Medeiros
Edison Amorin de Castro
Mario Menegatti Júnior