segunda-feira, 26 de julho de 2010

VAI UM METÁLICO AÍ? PRIMEIRA PARTE

Por: João Paulo Zaccariotto Ferreira

Estamos em 2010 e graças ao esforço e boa vontade de algumas pessoas, estaremos escrevendo matérias em todas as edições da revista PASSARINHEIROS & cia neste ano. Finalmente teremos um espaço de grande importância onde poderemos divulgar notícias, novidades e principalmente falar sobre o mais almejado canto do pintassilgo, o METÁLICO CLÁSSICO.

Em meados de 1999, animado com algumas palestras que os Veterinários e também criadores, Edison Amorim de Castro e Luis Alberto Shimaoka, vinham ministrando, o Professor Manuel Carlos C. Pereira, também criador, formou uma comissão juntamente com o Dr. Edison e membros dos clubes SOB e SERCA, criaram um regulamento e realizaram o primeiro torneio de canto de pintassilgo. Torneio que mais tarde ganhou o nome de “PINTASSILGO DE OURO”, criado pelo Sr. Wilson Rodrigues e pelo Sr. Edilson Guarnieri, diretor editor da revista “Passarinheiros & cia”, e apoiado pelo presidente do SERCA na época Sr. Aroldo Bitencourt. Desde então todos os anos foram realizados torneios através dos clubes e da Federação. Muitos colaboraram de alguma forma com a organização, e fizeram com que nós chegássemos onde estamos hoje. Com isso, adquirimos mais experiência, um regulamento mais elaborado, e o respeito por parte de criadores de outras espécies e dos clubes.

Hoje em dia temos um maior número de criadores de pintassilgo e já é mais fácil obter exemplares de criadouros, sejam comerciais ou amadores. Tais criadouros já estão em sua maioria com equipamentos de som tocando o canto Metálico Clássico para seus filhotes. Sem contar com os que possuem bons mestres para o ensinamento. O que aumenta ainda mais as chances de fazer um filhote. Não só através do canto como da genética. Filho de metálico tem uma maior chance de se tornar metálico. Embora ainda haja dificuldades no aprimoramento do canto, esses criadores têm obtido resultados favoráveis na reprodução. E através de matrizes mais selecionadas, os filhotes têm apresentado notas metálicas com boas melodias e sons bem agudos.

Mas como é possível fazer um pintassilgo metálico?

Existem alguns fatores que fazem com que seu pássaro chegue na estaca durante um torneio e cante metálico. E é através dessas matérias que vamos procurar passar a você leitor quais são os passos para alcançar esse objetivo.

Na edição numero 56, foi divulgado o atual regulamento oficial de todas as categorias de canto de pintassilgo. Nessa edição vamos começar a acrescentar mais detalhes sobre o canto metálico. Nossa intenção é abordar diferentes assuntos e dividir experiências próprias a respeito desse canto que tanto nos atrai.

E porque não começarmos pelo ovo?

Alguns dizem que o filhote já começa a aprender o canto do ovo. Até onde eu conheço não há um estudo cientifico que comprove isso. Se houver, por favor me informem. Mesmo assim acho que os primeiros dias de vida tem importante influência no canto da ave durante sua vida adulta.

Gostaria de citar palavras do professor de bioacústica do Instituto de Zootecnia da Unicamp SP Sr. Jacques Vielliard, que estão na edição numero 18 da revista Passarinheiros & cia. Quando perguntado quais seriam os períodos críticos de aprendizagem ele respondeu: “ Existem 3 períodos, são eles: Período de memorização – A fase em que o filhote forma a melodia na cabeça, é um período curto, normalmente no primeiro mês de vida. Dura até os 40 dias de vida do filhote. É justamente esse período que deve ser atentado pelos criadores...” “...para que suas aves não aprendam coisas erradas. Nessas condições, o filhote vai ser receptivo quando o pai e os vizinhos ainda cantam.
Período refratário – É o período que a ave para de memorizar os cantos, pois na natureza, elas não cantam, pela troca de penas, a própria migração, enfim o baixo período de reprodução. Daí ele fecha as porteiras para não pegar influências ruins.
Período de cristalização – e aquele no qual ele memoriza e vai praticar o que memorizou, vai fazer o controle motor, vai controlar a produção do som e ajustar tudo que está ouvindo. Nessa época, ele pode mudar um pouco o dialeto.”

Citei essas palavras do professor porque penso ter relevância devido a experiência própria. Acredito que se conseguirmos ter somente uma fêmea em casa criando seus filhotes sobre livre e espontânea pressão do CD, teremos mais chances de fazer um metálico. Uma vez trouxe para casa um filhote com aproximadamente 70 dias. E ao longo da minha caminhada tentando fazer pássaros metálicos adquiri um equipamento de som que já fez dois filhotes que haviam sido retirados de seus criatórios com + ou – 50 dias. Só no CD, sem mestre. Um deles se chama Palito que hoje é propriedade do criador amador Cláudio José Medeiros, que foi quem após 1 ano comigo, levou o pássaro para sua casa cantando metálico mas também errando consideravelmente e conseguiu fazer com que o pássaro firmasse seu canto metálico só no CD. Enfim, meu filhote de 70 dias ficou em casa sozinho durante mais de 1 ano. Ouvindo diariamente o mesmo equipamento no qual os outros dois haviam aprendido, ele também aprendeu a cantar metálico só que com um problema. Por sua influência musical ser basicamente Roda D´agua Clássico (aquele gorjeio continuo cantado por todos os pintassilgos), ele inicia seu canto com corrida metálica, mas é só para começar seu gorjeio longo. Com isso quero dizer que, com certeza, as características de canto que ele aprendeu no criatório onde nasceu, vai carregar durante toda sua vida. No caso dos outros dois filhotes acho que por algum motivo (proximidade de um macho que só dava corridas ou por durante seus primeiros dias de vida o macho dominante do criatório era um cantor de corridas, não necessariamente metálicas), eles criaram uma pré-disposição para corridas e vieram a se tornar metálicos. Há amigos meus que digam que isso não tem muito a ver. Que após começar a comer sozinho e ouvir de tudo que tem direito, filhotes são levados para outros lugares para ouvir metálico e se tornam metálicos. O que eu também não só acredito como já vi acontecer. Mas o fato é que as chances são aumentadas quando conseguimos fazer com que o filhote ouça metálico desde o ninho.

Então quer dizer que é possível fazer um pintassilgo metálico só com CD?

É sim! Existem alguns CDs e nem todos são apropriados. Já comprei um CD metálico onde também foi gravado “roda d’agua clássico” junto. Como não existe um estudo especifico a respeito, no começo tive problema também com o aparelho de som que tocava meu CD. Os aparelhos para canto de pássaros que estão no nosso mercado hoje não são apropriados. Foram elaborados para os cantos de pássaros de outras espécies. Notamos que quando os cds metálicos são tocados nesses aparelhos, há uma distorção nas caixas de som. Provavelmente porque os twiters instalados nesses aparelhos não suportam a freqüência do agudo da corrida metálica. Há também uma incompatibilidade do CD gravado para o aparelho. Dependendo de como o CD foi gravado, o aparelho em que vai ser tocado tem que suportar o tipo da gravação.

Como você sabe disso? Fazendo experiências. Temos que experimentar. Não quer dizer que seja difícil achar esta compatibilidade. Já vi e ouvi um pintassilgo baiano metálico formado por um CD, no meio de um criatório cheio de pintassilgos, onde havia um mini-system comum tocando um CD que eu desconhecia.

Na próxima matéria falaremos sobre problemas e soluções para firmar um filhote até aproximadamente seus 2 a 3 anos de idade, onde se torna um pássaro formado com relação a seu canto.


Colaboradores:
Cláudio José Medeiros
Edison Amorin de Castro
Mario Menegatti Júnior